sexta-feira, 16 de março de 2012

Vídeo-aula 12: Multiculturalismo: encaminhamentos pedagógicos

O professor Marcos Garcia Neira apresenta os encaminhamentos pedagógicos inspirados no multiculturalismo.

CURRÍCULO MULTICULTURALMENTE ORIENTADO
- prestigia procedimentos democráticos: desde o planejamento de ensino, as ações devem ser sensíveis ao que as pessoas estão pensando, ao reconhecimento que as pessoas trazem.

- reflexão crítica sobre as práticas sociais: debater as práticas sociais, sejam elas pertencentes às diversas áreas do conhecimento.

- promove o entrecruzamento de culturas: a partir da análise das práticas sociais, é importante que os alunos tenham acesso a novas perspectivas sobre uma mesma ideia.

- resistência à reprodução da ideologia dominante: currículos estão contaminados com visões de mundo. Assim, um currículo multiculturalmente orientado deve resistir a esses elementos.

- questionamento das relações de poder 

- enfatiza as diferenças: prioriza, valoriza e enfatiza as diferenças, evitando a homogeneização. 

A PRÁTICA PEDAGÓGICA
- tematização: um mesmo assunto enfocado sob diversos pontos de vista; o tema não é apresentado como verdade única.

- reconhecimento do patrimônio cultural da comunidade: a bagagem cultural dos alunos não deve ser ignorada, ao contrário, é um dos elementos que devem fazer parte da tematização.

- hibridização discursiva: os discursos - acadêmico, cultural experiencial dos alunos, conhecimento do senso comum - são misturados no currículo. Currículo mestiço.

- mecanismos de diferenciação pedagógica: atividades organizadas de forma a valorizarem o repertório dos alunos de formas diferentes. É importante misturar pesquisas, leituras, coleta de dados, entrevistas, depoimentos, variação de fontes - se priorizamos sempre o mesmo espaço de coleta de informações, acabamos priorizando o mesmo olhar sobre as coisas do mundo; é preciso variar os recursos didáticos, para que  os alunos acessem visões diferentes.

- pedagogia do dissenso (Pete Mclaren): a sala de aula deve ser um encontro de posicionamentos diferentes.

- concepção metodológica dialética: troca de significados diferentes, desenvolvendo análises profundas e variadas, alcançando sínteses, pessoais ou coletivas.

- abordagem etnográfica: olhar para o tema e tentar encontrar suas origens, investigando porque determinadas marcas estão presentes; olhar para os temas e tentar identificar que relações de poder atuaram para que uma explicação prevalecesse sobre outra.

- registro: pode ser feito pelos professores, alunos ou ambos. O registro permite avaliar o processo e analisar o trabalho.  




quinta-feira, 15 de março de 2012

Vídeo-aula 11: Políticas culturais, multiculturalismo e currículo

O professor Marcos Garcia Nogueira fala sobre as políticas culturais, o multiculturalismo e o currículo.

POLÍTICAS CULTURAIS
Segundo Ana Pereira, podemos defini-las:
- segregacionistas: são as políticas que posicionam as pessoas segundo suas características em determinados lugares. Ex: reserva de vagas de estacionamento em locais como escolas e universidades. Se todos somos funcionários, por que a vaga foi reservada somente ao diretor? 

- assimilacionistas: partem do princípio de que a forma de ser, pensar e agir são mais corretas, os significados atribuídos a determinados grupos, são a identidade, enquanto que o significado atribuído por outros grupos são menos importantes, são ruins, são a diferença. Assim, as políticas assimilacionistas são estabelecidas para que haja uma assimilação destes outros grupos àqueles grupos com maior força simbólica, que detém o poder de dizer como o outro deve ser. Ex: nas escolas, muitas vezes, crianças, jovens e adultos não concordam com a política estabelecida no lugar, porém são obrigadas a aceitarem [ou fingirem que aceitam] para que possam sobreviver ao lugar; caso haja uma negação, são colocadas como indisciplinadas, por infringirem regras. 

- integracionistas: enxergam as diferenças e procuram preservar os significados que esses grupos possuem, procuram incluir grupos. As políticas integracionistas têm maior importância ou precisam acontecer com maior incidência.


MULTICULTURALISMO
Por Peter Mclaren, os vários tipos de multiculturalismo vigentes:
- conservador ou monocultural: pessoas sãos diferentes, mas na visão do multiculturalista conservador, sua cultura é a mais importante; o multiculturalista vai apagando as diferenças culturais, procurando homogeneizar o grupo. Ex. o professor vai apresentando a cultura hegemônica, e, assim, vai, lentamente, apagando o jeito de seus alunos enxergarem suas ideias.

- liberal: amparada nas ideias do liberalismo: pertencemos à mesma humanidade e as culturas que sobreviverão são aquelas que possuem maior condição; os significados que serão valorizados são aqueles que pertencem ao grupos que vencem esta luta cultural. O multiculturalismo liberal tem relação íntima com a ideia do mercado. 

- pluralista: as pessoas possuem identidades culturais diferentes, assim como os grupos têm marcadores culturais diferentes; em uma sociedade democrática, todos precisam se expressar. Na escola, temos o Dia do Índio, o Dia da Consciência Negra, o dia de levar o brinquedo - esse tipo de multiculturalismo valoriza diferentes identidades, mas não contribuem para a reflexão e discussão, apenas cria espaços para todos. 

- essencialista de esquerda: o multiculturalismo essencial de esquerda valoriza a ideia de que grupos oprimidos são essencialmente oprimidos e, grupos opressores são essencialmente opressores. Porém, na perspectiva do multiculturalismo, ninguém é totalmente puro, somos híbridos, em alguns momentos oprimimos e, em outros, sofremos opressão. O multiculturalismo de esquerda tende a posicionar, a colocar pessoas em determinadas posições como se essas posições nunca se alterasse, como se os grupos não circulassem por outros espaços. 

- crítico ou intercultural: valoriza as diferenças e reconhece os grupos, porém vai além do apenas reconhecimento, como o pluralista. O multiculturalismo crítico promove o encontro entre os grupos para que todos possam compreender as ideias dos outros grupos. Não basta estipular o Dia do Índio na escola, por exemplo, mas desenvolver pedagogias que façam com que os alunos entendam quais forças atuaram para posicionar as mulheres, os negros, os índios, em posições desvantajosas. 

CURRÍCULO
O professor apresenta uma certa experiência cultural que vai posicionando os alunos em relação às ideias do mundo. A decisão curricular é um ato político, portanto, a ação de elaborar uma atividade, selecionar o material, deve ser uma ação bastante pensada, pois o professor estará posicionando pessoas de uma maneira ou outra.
- currículos conservadores: posicionam as pessoas em relação às coisas do mundo, de forma a tentar manter as coisas como elas estão - a cultura hegemônica é apresentada de certa forma que faz com que os alunos  acreditem que maneira apresentada é a única maneira de ser.

- currículos assimilacionaistas: a nossa ideia é convencer os alunos a uma única e possível maneira de ser.

- currículos interculturais ou críticos: reconhecem a diversidade, trabalham com a diversidade cultural, valorizando os conhecimentos das culturas que frequentam a escola, para que essas culturas possam ser vistas como legítimas de circulação do espaço público.

O artigo de Maria José Albuquerque da Silva e Maria Rejane Lima Brandim, disponível em http://www.fit.br/home/link/texto/Multiculturalismo.pdf, traz considerações a respeito do Multiculturalismo. Vale ler!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Vídeo-aula 10: EDH no Brasil

A vídeo-aula 10 é ministrada pela Professora Nazaré Zenaide, que fala sobre a Educação em Direitos Humanos (EDH) no Brasil. 

A história da EDH no Brasil não se dissociou da história política e social do país. Sua trajetória não se resume ao momento de instalação do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Sua gestação atravessou processos de lutas e conquistas por direitos.

Educar mentalidades numa história marcada por lutas e conquistas
- Brasil Colônia - 1500 - 1822 (3 séculos - 322 anos) - Regime Monarquia
- Brasil República - 1891 - 2012 (2 séculos)
- Oligárquica - 1891 (39 anos)
- Populista - 1930 - 1937 (7 anos)
- Estado Novo - 1937 - 1945 (8 anos)
- Democracia - 1945 - 1964 (19 anos)
- Ditadura Militar - 1964 - 1985 (21 anos)
- Democracia - 1985 - 2012 (27 anos)

O Brasil viveu três séculos sob o regime monárquico. É natural que o modo de ser e agir tenham resquícios desse passado histórico. 
O professor deve ter em mente duas dimensões do 'para que educar?':
- educar para resistir às formas de opressão
- educar para construir um sujeito com plena consciência de seus direitos

Lutas em torno da educação século XX
Conhecer as lutas por conquistas ao longo dos anos é fundamental para que possamos desempenhar nosso trabalho de conscientização. O jovem precisa conhecer o passado de lutas de seu país para que ele saiba resistir às diversas violências do cotidiano e não silenciar diante de situações de coação e abuso.

- entre 1915 e 1917: lutas contra o analfabetismo e pela expansão do acesso á educação;

- entre 1930 e 1945: Manifesto dos Pioneiros, 1931, e Campanha em Defesa da Escola Pública, 1950.
Para ler mais a respeito do Manifesto dos Pioneiros, sugiro o artigo de Marcus Vinicius da Cunha, disponível em http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe4/coordenadas/eixo06/Coordenada%20por%20Jose%20Carlos%20Sousa%20Araujo/Marcus%20Vinicius%20da%20Cunha%20-%20Texto.pdf.

- de 1945 a 1964: autoritarismos e golpes militares, lutas pela educação de base e cultura popular, e pela Escola Pública e Gratuita.

- de 1964 a 1988: lutas pelas anistias, eleições diretas e a democratização da sociedade.
Cartaz do Movimento pela Anistia Ampla. 1975. Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25241. Clique na imagem para ampliar.

Manifestação Pública do Movimento pela Anistia. 1975. Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25241

- de 1988 aos dias atuais: lutas pela universalização da educação infantil e educação básica, pela expansão da escola pública superior, pela diversidade na educação e EDH.


É preciso que os direitos humanos se façam presentes no cotidiano das pessoas, no dia a dia da mídia, da família, da rua, do trânsito, ou seja, além de ação insitucionalizada, os direitos humanos devem estar em processo ativo no dia a dia.


Nós, educadores, temos a missão de construir uma cultura de direitos humanos, formar o cidadão apto a viver em uma sociedade democrática. Temos a responsabilidade de construir uma cultura plena de direitos e mudar uma mentalidade estagnada de conformismo e quietude. Os espaços formais de educação são os espaços que melhor podem proporcionar uma educação baseada na formação do cidadão consciente em uma sociedade democrática.



segunda-feira, 12 de março de 2012

Vídeo-aula 9: Sujeito de Direitos

O professor Guilherme Assis de Almeira, na vídeo-aula 9, aborda o tema da Constituição do Sujeito de Direito.

O sujeito de direito é um construído, e não somente um dado posto pela norma; requer a participação de todos os profissionais, de todas as instituições envolvidas com a tarefa de trabalho, justiça, educação.  

Como constituir o sujeito de direitos?
Para construir um sujeito de direitos, deve-se pensar na criança. 
Criança é definida pela faixa etária. Para o direito internacional, compreende a pessoa de 0 aos 18 anos. Para o ECA, é criança quem tem de 0 a 12 anos e  adolescente, 12 a 18 anos. Antes de ser criança, a criança foi um bebê e, antes de ser bebê, ela foi um embrião. Todo esse processo de crescimento é um processo delicado, que requer cuidados e rede de apoio, tanto da família, como da sociedade e do estado. Assim que a criança nasce, passa a ser um sujeito pleno de direito, porém, em uma situação especial, visto que é uma pessoa em desenvolvimento, ela vai precisar daquilo que a nova doutrina chama de proteção integral. O artigo 5º do ECA diz que a criança deve ser protegida de toda forma de negligência, exploração, omissão e demais questões que afetem seu desenvolvimento integral. A violência contra a criança existe em todo lugar do mundo, mas apenas algumas legislações proíbem expressamente esta violência contra a criança. A forma com que as crianças são vistas e tratadas determina o estágio de desenvolvimento de determinado país.

A proteção integral para a criança significa colocá-la a salvo de qualquer forma de violência contra ela. O professor, em seu cotidiano, tem a grande tarefa de prestar atenção a esse objetivo maior da legislação brasileira, que, no tocante à infância e à juventude, é excelente, mas carece de melhores profissionais em sua aplicação (professores, psicólogos, policiais, promotres, etc).  A melhor forma de lidar com essas questões é o  diálogo, debate, a discussão, pensar que formas devem ser encontradas para oferecer a essas pessoas em desenvolvimento oportunidades para que o sujeito de direitos seja constituído. 
Importante salientar que o processo dialógico é um processo heurístico, ou seja, é na prática que descobrimos soluções. Professores devem se reunir e conversar, encontrar afinidades, propor rodas de conversa. No âmbito da proteção integral, a primeira tarefa, a mais urgente, é oferecer formas de diminuir a violência. 


Leitura indicada: http://www.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/022e4.pdf. No texto, Sibele Macagnan Cárdias reflete sobre a importância do diálogo na sala de aula, como mediado de práticas educativas reflexivas.

É necessário que o professor dê oportunidade para que os alunos expressem suas angústias, seus sentimentos, suas opiniões e converse com os alunos em igualdade de condições; conversar sem máscaras.